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conexão

  • Foto do escritor: Rota em Cria
    Rota em Cria
  • 1 de jun. de 2018
  • 2 min de leitura

Rudá, ao olhar uma foto tirada na nossa viagem:

- olha, mamãe! eu e papai na praia!

- sim! sabe onde fica essa praia?

- sim!

- onde?

- não sei!

- em Cumuruxatiba.

- quero praia!

- ih, agora a praia tá longe da gente, filho...

- (entristecendo os olhos e resmungando) quero ir para Cumuruxatiba!

- lá é gostoso, né, filho?

- sim.

- mas aqui também tem muitas coisas gostosas, né?

ele lembrou junto de mim alguns dos afetos de onde estávamos e soltou, depois de um tempo pensando:

- quero ir para a escola.

- que escola, filho?

- a escola das crianças.

- que escola das crianças?

- em Curitiba.

- (muito surpresa dele ter acessado essa memória) A Casinha Amarela, filho?

- sim.

- lá não é bem uma escola... é mais uma... casa de brincadeiras.

- quero a casa de brincadeiras!

- o que tinha lá, filho? você lembra?

- sim.

- o quê?

- nao sei.

- tinha pula pula?

- sim! (sorrindo como se tivesse acabado de lembrar)

- tinha balanço?

- sim!

fomos rememorando tudo que tinha até explodir as memórias e colocarmos umbigo, sopa, macarrão e arroz na história e cantar "será que tem umbigo? siiiim!"

esse papo rendeu muito. a gente deve ter ficado 20 minutos olhando nos olhos e conversando. deixei passar qualquer julgamento sobre ele e sobre nós. rimos gostoso e muito conectados. nesse momento eu poderia ter acessado a culpa e feito outra conversa com ele, saído do presente, mirabolado outra história. poderia ter achado que ele tava infeliz, sentindo saudade e não estar se adaptando a essa vida de apego e desapego das pessoas, dos lugares.

acontece que na conexão não existe tentativa de solução isolada. a gente simplesmente observa e dissolve as coisas juntos, entende as coisas juntos. pensa junto, sonha junto. sente junto e entende o sentimento como um percusso, um processo. esse tem sido um dos maiores aprendizados diários na criação de Rudá nessa viagem. só no presente que a gente realmente vê. e mesmo sabendo disso, muitas vezes não conseguimos esse presente de estar no presente.




por muito tempo eu achei que não fosse possível ser feliz sendo mãe. o que eu não me dava conta é de que o problema não era ser mãe ou qualquer outro motivo externo. a questão é que eu estava completamente desconectada de mim mesma. consequentemente, desconectada de Rudá, João, da vida.




decidir viver esse projeto de abrir mão de tudo, existir junto deles em viagem e ver o que surge disso, me fez distanciar um sistema, uma rotina, um padrão já inconsciente de completa desconexão e enxergar um sentido de vida palpável, possível, concreto: cuidar de mim. consequentemente, de nós.

e ver o que surge disso.

texto: Padu

foto amor: João Pedro Orban


 
 
 

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