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capítulo 3: CASINHA AMARELA

  • Padu
  • 9 de abr. de 2018
  • 4 min de leitura

estar na Casinha Amarela foi um processo muito forte para a gente. principalmente, porque revisitamos e renovamos tudo que envolvia nossa relação com o Rudá. foi tão forte que foi lá que refizemos o parto dele (leia o texto do renascimento aqui), depois de uma série de insights pipocando em nossas cabeças.

desde sempre nos preocupamos muito com a criação que proporcionamos ao Rudá, procuramos sempre escolhas que valorizem o nosso vínculo, escuta e afeto. mas muitas das escolhas, por mais "alternativas" que sejam, são feitas, lá no fundo, a partir da necessidade de querer "resolver" nosso filho. lá na experiência da Casinha Amarela fomos impulsionados a apenas estar com Rudá e nos deixar transformar na presença com ele.

a Casinha Amarela é um espaço criado em Campo Largo, Paraná, na casa/sítio da família Talita, Gabriel, Yohan, Noah e Ami. espaço iniciado por essa família e abraçada por muitas outras. ao chegarmos, contando sobre nossa experiência de viagem em uma conversa na beira do quintal comendo uva, trazendo questionamentos sobre escolarização, não escolarização e crianças incríveis (dentro e fora da escola) que encontramos pelo caminho, Talita iniciou nosso processo com a pergunta: "mas o que é uma criança incrível para vocês?". nesse começo já foi possível perceber que a nossa vivência lá giraria em torno de conscientizar as expectativas e frustrações na criação de uma criança "perfeita" para nós, que está longe de existir. estávamos no momento de olhar os julgamentos que não permitem que a gente acolha os conflitos, crises, choros do Rudá e não aceite ele na sua inteireza e complexidade, criando uma desconexão completa entre nós.

a Casinha Amarela é um espaço de acolhimento de mães, pais e suas crias. lá, as crianças criam e brincam de forma livre. lá tem espaço pra tudo quanto é jeito, espaços preparados para atividades coletivas, atividades mais concentradas e individuais, atividades mais físicas. a partir das vivências na Casinha Amarela, surgiu a Pedagogia Viva. os objetos e brinquedos também foram surgindo a partir das brincadeiras e necessidades das crianças no espaço. a proposta é que lá seja um espaço de convivência onde "desaprendemos o conduzir ou direcionar as crianças e aprendemos e conhecemos a autonomia, desaprendemos sobre expectativas e julgamentos em relação aos comportamentos das crianças e aprendemos a confiar em suas escolhas, desaprendemos sobre a mecanicidade de uma vida segura e planejada e aprendemos a nos entregar para viver o que for preciso no momento presente, criando juntos, como família e principalmente como indivíduos, o que for necessário para nosso caminhar, respeitando o impulso primeiro de nossa essência." (trecho retirado da divulgação do curso de Pedagogia Viva)

no formato atual, a Casinha funciona duas vezes por semana, englobando uma tarde de brincadeira livre, lanche compartilhado, fogueira e conversas. lá, enquanto as crianças brincam, somos convidados a observar e pouco interferir, abrindo espaço para a compreensão das nossas crenças, limitações e julgamentos em diversas situações. somos convidados a escutar nossas questões profundas que se manifestam e perpetuam na convivência e criação de crianças. somos convidados a acolher nós mesmos, as crianças, as outras pessoas.

nesse período, além de ficarmos imersos nas experiências de criação e autonomia proporcionadas pela Talita e pela Casinha, também estivemos imersos nas vivências agroflorestais com Gabriel. fomos provocados a repensar as lentes de como nos vemos habitando o planeta. para além de reflexões conservacionistas ou preservacionistas, nós realmente nos vemos como parte do sistema e da comunidade de seres que vivem na terra? a horta que fazemos, por mais que não derrube árvores e não tenha venenos está realmente favorecendo a diversidade do ambiente? mesmo a horta não sendo uma monocultura, seguimos selecionando demais o que está ali? estamos deixando a natureza dizer se há equilíbrio ou seguimos lutando constantemente pra tentar provocar à força esse suposta estabilidade que tanto buscamos? por exemplo: as formigas e outros insetos comendo as folhas do brócolis não são uma praga desequilibrada, são sinais de que a relação que nós estamos tendo com a natureza é que está em desequilíbrio. comem as folhas do brócolis, porque tiramos todo o resto que elas comiam onde fizemos a horta. acabamos com a diversidade que elas e toda a natureza (nos incluindo, é claro) necessita para viver. assim, cortar os brócolis e colocar sobre o solo, cortar algumas árvores, abrindo clareiras, e colocá-las sobre o solo, constantemente podar galhos e colocá-los sobre o solo, se mostraram não mais intervenções destrutivas, mas ações complexificadoras do ambiente. assim como nas florestas, para se relacionar na comunidade da vida é necessário agir continuamente a favor da diversidade e complexificação do ambiente.

agradecemos muito a todas as pessoas envolvidas nesse espaço que proporcionou para nós uma vivência de sinceridade, escuta e confiança. onde conseguimos conscientizar muitas das nossas podas, e onde nos possibilitamos rebrotar e nos complexificar. um agradecimento especial à Talita, Gabriel, Yohan, Noah e Ami, que nos acolheram tão lindamente e que já são um presente imenso no nosso coração.

{um adendo importante: antes da Casinha Amarela, os caminhos para repensar a criação do Rudá já tinham sido abertos pelo encontro com o Marcelo Michelson em Amalaya, que nos apresentou a Criação com Conexão. um dos processos da criação com Conexão é perceber quando a criança está dando sinais de desconexão, criar um limite e ajudar a criança a lidar com ele, deixando ela extravasar suas emoções para criar a conexão novamente. desde o começo da viagem, já estávamos sentindo a entrada de uma fase nova e desafiadora com o Rudá, na qual não tinha mais caminho a não ser lidar com o choro dele de forma positiva, depois de muitas tentativas frustradas. não tinha mais como esconder que precisávamos dar atenção a isso e o processo da Criação com Conexão chegou dando a possibilidade de curar a nossa intolerância ao choro/insatisfação, e reconhecer o choro/insatisfação contidos dentro da gente, toda a emoção que nos é impedida se ser extravasada}

convidamos vocês a entrar em contato com essas experiências transformadoras!

se quiser saber mais sobre o projeto da Casinha Amarela:

se quiser saber mais sobre a Criação com Conexão, segue o blog do Marcelo:

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texto: Padu

Fotos: João Pedro Orban


 
 
 

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