capítulo 2: VÂNIA E VALÉRIA
- Padu
- 18 de mar. de 2018
- 4 min de leitura


um dos frutos surpresa da viagem foi o encontro com Vânia e Valéria. sem planejarmos, caímos de paraquedas na Minha Fazenda, morada dessa família. sem planejarmos, encontramos uma casa de coração tão imenso que cabe gato, cachorro, galinha, jumento, pato, coelho, panela e horta orgânica. fomos pescados por uma admiração imensa encontrando pessoas tão simples e complexas, resistência a tantos fluxos de intolerância, segregação e violência.
Valéria (natural de São Paulo) e Vânia (natural de Juazeiro) estão há 25 anos casadas e formando uma parceria de amor. faz 11 anos que decidiram sair de Castro Alves, casa onde moravam, porque já haviam acolhido 14 cachorros de rua e já não tinham mais espaço para tantos bichos. saíram em busca de uma chácara e se apaixonaram pela casa do pé de Ipê amarelo, em Parelheiros, São Paulo. juntaram uns pés de meia e começaram a vender uns maços de alface e couve. assim é a história delas: um maço de cada vez, um pé de cada vez, muita paciência e fé.
na chácara onde moravam também começou a crescer o número de patas habitantes e acolhidas da rua. Vânia trabalhava em uma escola em Castro Alves, Valéria começou a procurar cursos e formações em agricultura e a parar de vender alimentos com veneno. mais uns pés de meia, serviços e vendas aqui e acolá e o sonho de conseguir mais uma casa. encontraram uma outra chácara, na frente de casa, e tanto insistiram em fé, parcelas, empréstimos e em conversas com o dono, que conseguiram a casa, a atual Minha Fazenda, chácara com plantação de orgânicos e sonhos. a casa antiga onde moravam virou um abrigo para mais de 50 cachorros acolhidos das ruas. todo dia elas fazem o percurso longo de alimentação dos bichos, desde os jumentos até os cachorros. de restos de comida, até preparo de uma mistura de frango, arroz e ração.


em um meio desigual de produção e produtores, entre monoculturas, venenos e agricultores homens, existe Valéria: agricultora orgânica (que sonha em viabilizar a distribuição de produtos orgânicos a preços populares) e presidenta da Cooperapas, Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa da Região Sul de São Paulo, uma cooperativa de agricultores orgânicos, de agricultores em transição da agricultura convencional para orgânica e de agricultores convencionais. Valéria divide seu trabalho entre afazeres burocráticos da cooperativa, sua produção agrícola e o cuidado dos bichos. recentemente, fechou um contrato com a Prefeitura de São Paulo, direcionando grande parte das compras de alimentos de merenda escolar para produtores orgânicos de São Paulo. e junto disso tudo, tem tocado um projeto de criação de uma rede de turismo de base comunitária, visando aproximar produtores e consumidores e fortalecendo a economia e desenvolvimento local.




Vânia é quem cozinha e faz da cozinha uma arte de poder: coração de bananeira, PANC’S, cambuçi (fruta da região) em suco, pasta e pesto, talos reaproveitados. em parceria com o projeto Sementinha do CPCD do Tião Rocha e com o IBEAC, Vânia colabora no projeto “Vargem Grande: Comunidade Saudável” coordenando uma cozinha de empoderamento de mulheres da região que sofreram violência. lá, as mulheres trabalham juntas com alimentação natural e valorização de alimentos da região, produzindo receitas próprias, reiventando outras e gerando renda para elas. o projeto Vargem Grande atua no sul de São Paulo (Parelheiros), região de grandes déficits sociais de exclusão e marginalização.
a convite da Vânia, fomos conhecer o projeto e fomos mais uma vez pescados pela admiração ao ver um projeto social abraçado por uma comunidade. abraço é o que define. criado em 2013, o projeto de Vargem Grande é um grande abraçador de iniciativas sociais (respeitando a ética e a vida, vale tudo!): o banco de solidariedade, onde trocas acontecem e pessoas dizem o que podem oferecer e o que precisam; projeto de Permacultura e pintura com terra; alfabetização; algibeiras literárias (bolsas com livros espalhados pela comunidade para empréstimo espontâneo); clubes de leitura em escolas e creches; banco de leitura, onde você troca um livro seu por outro, quantas vezes quiser; centro de Excelência da 1ª infância; Projeto Sementinha para crianças, de 3 a 6 anos; Guardiãs de Vargem Grande, de 8 a 12 anos; oficinas de arte educação; Sarau; formação de professores; mobilização de projetos das mães da comunidade, entre outras.








falar dessas mulheres é falar de muita coisa poderosa junto. encontrar elas, então! é um presente cheio de esperança. sentimos a potência de um trabalho social, da prosperidade que vem da terra, da perseverança em alcançar sonhos e vontade, do amor e acolhimento de quem e o que tiver que vir, da leveza de brincadeiras e sorrisos em uma rotina puxada. sorrimos e sonhamos juntos, sonhamos alto. resgatamos energia. somos profundo agradecimento por tanto aprendizado.
a Minha Fazenda, propriedade das duas, está aberta para receber pessoas que queiram conhecer uma produção orgânica, comer uma deliciosa refeição e consumir produtos de produtores locais.
se quiserem saber mais sobre a Minha Fazenda, entra em contato com a gente!
e para saber mais sobre o projeto “Vargem Grande Saudável” e o CPCD: www.cpcd.org.br/vargem-grande-saudavel
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texto: Padu
fotos: João Pedro Orban
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