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capítulo 1: AMALAYA

  • Padu
  • 24 de fev. de 2018
  • 4 min de leitura

é difícil escrever, decidir e pontuar o que foi viver Amalaya. primeiro, porque Amalaya ainda vive em nós depois de estarmos lá, Amalaya ainda reverbera, ressoa. segundo, porque estar em Amalaya foi abrir mão de muitos conceitos e expectativas que carregávamos para essa viagem, e quando a gente perde algumas coisas fica meio sem palavras mesmo, observando o silêncio que chegou, depois da saída barulhenta das bagagens que tivemos que abrir mão. terceiro, porque tudo o que eu disser aqui pode ser contradito. porque tudo é e não é.

o ponto de partida para estar lá foi encontrar outras famílias que estão em deslocamento, em viagem. foram 3 dias de trocas e compartilhamento de experiências, recheados de temperos, brincadeiras de crianças e sol forte, sem programação. crianças correndo e ensinando sobre autonomia, pessoas contando sobre suas vidas em volta de uma mesa decorada com a melhor comida que cada um sabia fazer, observações silenciosas das sincronicidades dos encontros de pessoas em deslocamento.

Amalaya é um espaço de experiências e vivências em Piracaia, onde moram Ana, Fabio, Regiane, Nicolas, Guto e Marcelo. nosso maior foco inicial era entrar em contato com as vivências da Ana Thomaz (quem já admirávamos os trabalhos de longe) e começar a viagem em um mergulho interno em nós.

estar com a Ana foi desestruturante e estruturante. fomos atravessados por uma possibilidade nova. rompendo nossas expectativas, Ana nos possibilitou outra forma de perceber a vida: a transição entre estar/viver um pensamento dualista e estar/viver em um pensamento paradoxal.

simplificando o que é impossível de simplificar: quando vivemos um pensamento dualista, vivemos a separação, a necessidade de polaridades. dentro de um pensamento dualista, cabe julgamento, competição, expectativa, cabe a necessidade de resposta e resolução de tudo, cabe certo e errado, cabe bem e mal, cabe melhor e pior, cabe apego. de outra forma, quando experimentamos o pensamento paradoxal, vivemos todas as possibilidades, sem julgamento do que é certo e errado. vivemos a despedida do apego e a coragem de se perder e se encontrar, sem fim. as coisas não necessitam ter um fim, porque as coisas já existem e já estão acontecendo. mas até mesmo essa tentativa de explicação já não é paradoxal. explicar a experiência paradoxal por meio da nossa linguagem, da nossa visão, já é a princípio um recorte dualista sobre os fatos. mas assim é. assim foi para nós.

então, imagine nós, Padu e João (saindo na expectativa da busca pelo encontro com o nosso propósito e pela resolução dos nossos problemas nesse projeto imenso de viagem) nos deparando com a possibilidade infinita de apenas não sair. não buscar. não procurar um fim e deixar que as coisas aconteçam por si só. quem sabe nem mesmo sairmos em viagem. de deixar o que já iria acontecer apenas acontecer. nada de papo de destino ou coisas assim, apenas vivenciar a experiência de deixar o que for acontecer acontecer e se relacionar com isso. sem planejamentos, sem expectativas.

em algum lugar, dentro de nós, buscamos resolver nossas questões. buscamos um planejamento perfeito para que as coisas deem certo. buscamos dar um uma resposta. buscamos. buscamos. buscamos. em algum lugar, essa viagem carrega a expectativa de encontrar felicidade e sucesso. e carregar tudo isso nas nossas vidas tem sido nos depararmos com um abismo de frustrações, porque nada nunca é do jeito que projetamos. porque tudo já é do jeito que é.

começar por Amalaya tem sido um presente desafiador, porque os passos estão sendo regados pela percepção da nossa dificuldade em se entregar para o nada (e nossa dificuldade de se entregar para o todo, para todas as possibilidades), pela necessidade de controlar nossos planos e passos, pela necessidade de cultivar nossos medos. tem sido tentar questionar nossos pensamentos toda vez que um “então agora eu quero isso”, “eu preciso disso”, "eu espero isso”, “eu sou isso” surge tentando resolver nossa vida e definir os nossos passos. tem sido tentar perceber o que, de fato, a gente realmente sustenta e o que é só idealização. tem sido um trabalho árduo de tentar se entregar para a imprevisibilidade.

até agora, tudo o que planejamos e buscamos excessivamente gerou frustração. até agora, tudo que surgiu no encontro, foi um presente imenso, uma surpresa gostosa. o momento antes de se entregar é um desconforto imenso, é um desespero por não ter as coisas no controle. o momento antes de receber o presente é um medo de se perder e dar tudo errado. mas receber o presente que veio do nada é inacreditável de tão gratificante.

começar por Amalaya tem feito todo o sentido no fortalecimento da nossa presença e nosso olhar nos encontros. Rota em Cria já existe e caminha do jeito que é, só cabe a gente confiar, deixar ele fluir e existir por si só.

em Amalaya fomos também surpreendidos pelo encontro com o Marcelo Michelsohn e atravessados por novas possibilidades de relação entre mães, pais e filhos. bem no meio de um momento novo e desafiador com o Rudá. mas isso merece uma nova postagem dedicada só para isso.

conheçam mais sobre Amalaya aqui: www.amalaya.art.br

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texto: Padu

fotos: João Pedro Orban


 
 
 

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